Mãe relata violência obstétrica em hospital de SC
‘Pediram para meu marido se retirar e eu apaguei, não sei o que aconteceu’
Estadual – Uma mãe de 30 anos relatou episódios de violência obstétrica que sofreu no Hospital Regional do Oeste (HRO) na cidade de Chapecó.
Segundo ela, a equipe pediu para que o marido se retirasse da sala em um momento em que ela passou mal e ficou inconsciente. A paciente também relatou erros no prontuário e desinteresse de parte da equipe médica, inclusive em exames pré-natal do bebê.
“Quando eu passei mal, eles pediram para o [marido] se retirar e eu apaguei, e eu não sei o que aconteceu nesse período que eu apaguei”, disse. O capítulo sobre violência obstétrica da lei estadual número 18.322/2022 diz, no inciso IX do artigo 35, que é considerada ofensa “impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência durante todo o trabalho de parto”.
O hospital se manifestou por nota. “A Direção do HRO desconhece os termos da denúncia, não localizou queixa na Ouvidoria, mas vai verificar se o relato procede”.
Relato
A paciente relatou que, em um momento em que ela não estava bem e chegou a ficar inconsciente, a equipe pediu para que o marido dela saísse da sala.
“Quando eu passei mal, eles pediram para o [marido] se retirar e eu apaguei, e eu não sei o que aconteceu nesse período que eu apaguei. Até falei para o [marido] que eu fiquei meio preocupada depois que eu vi isso, porque era um homem anestesista. Claro, tinha a doutora junto nesse momento, o que me tranquiliza. Mas pediram para o [marido] se retirar na hora que eu apaguei”, disse.
Ela também falou que não sabe o que ocorreu enquanto ela estava inconsciente. “Eu pedi o meu prontuário, eu olhei. Não tem dizendo por que eu passei mal, não está dizendo o que eles colocaram no soro”, disse.
“Eu entrei na cesárea, ele [marido] entrou bem depois, estavam tirando a neném praticamente”, completou.
A paciente também disse que houve erros de informações.
“No meu prontuário, está escrito que eu dei entrada no hospital me queixando de perda de líquido. Eu não entrei no hospital me queixando de perda de líquido, eu entrei no hospital com a pressão super alta”, relatou.
Ela falou ainda que, inicialmente, não foi bem tratada pela equipe que estava de plantão. A paciente disse que não poderia entrar em trabalho de parto por complicações da gestação. “Eu entrei em trabalho de parto sabendo que eu não poderia entrar em trabalho de parto, avisando as mulheres e elas meio que fazendo descaso”, afirmou.
Na troca de plantão, segundo a mãe, uma médica pediu exame de ultrassonografia. O profissional que realizou o procedimento viu que ela tinha contrações, e avisou a médica que a criança tinha má formação e a paciente não poderia ter entrado em trabalho de parto.
“Ela me chamou perguntando se eu sabia que a minha filha tinha uma má formação. Eu tinha avisado a doutora que me atendeu, eu avisei, eu mostrei os exames da [criança], mostrei a ressonância para ela. Essa doutora não viu os exames, não anotaram no prontuário, não fizeram nada disso. Então eu fiquei todo esse tempo ali esperando, entrando em trabalho de parto, arriscando alguma coisa porque não passaram a informação correta”, contou.
Depois que foi atendida por outra médica, porém, a situação melhorou, conforme a paciente. “A obstetra que me atendeu, que fez a cesárea, foi bem atenciosa. No que ela percebeu tudo que estava acontecendo, ela já agilizou tudo. Só que antes dela eu acredito que tenham tido duas trocas de plantão. A neném nasceu às 13h35. Eu estava lá desde às 5h. Na verdade, eu fiquei de jejum desde a noite anterior, que eu comi de noite, depois não comi mais”, disse. O parto ocorreu no final do ano passado.
O que é violência obstétrica?
Violência obstétrica é o termo utilizado para caracterizar abusos sofridos por mulheres quando procuram serviços de saúde durante a gestação, na hora do parto, nascimento ou pós-parto. Os maus tratos podem incluir violência física ou psicológica, podendo fazer da experiência do parto um momento traumático para a mulher ou o bebê.
A violência obstétrica está relacionada não apenas ao trabalho de profissionais de saúde, mas também a falhas estruturais de clínicas, hospitais e do sistema de saúde como um todo.
Como identificar?
Existem diversas formas de o serviço de saúde ser prejudicial à mulher durante a gestação ou no puerpério, desde intimidação ou agressão verbal ao negligenciamento de tratamentos.
Procedimentos desnecessários ou não autorizados pela gestante também se encaixam no quadro de violência obstétrica. A paciente não pode ser desrespeitada ou não informada sobre quaisquer procedimentos. Entre os exemplos:
*Abusos físico, sexual ou verbal;
*Discriminação por idade, raça, classe social ou condições médicas;
*Más condições do sistema de saúde, como falta de recursos;
*Recusa na oferta de tratamentos à gestante ou ao bebê;
*Não informar a paciente sobre procedimentos ou desrespeitar a decisão da mesma.
Como denunciar?
A denúncia pode ser feita no hospital ou serviço de saúde em que a paciente foi atendida. Também na secretaria de saúde responsável pelo estabelecimento (municipal, estadual ou distrital) e nos conselhos de classe — Conselho Regional de Medicina (CRM) para médicos ou Conselho Regional de Enfermagem (COREN) para enfermeiros ou técnicos de enfermagem, por exemplo.
Para atendimento telefônico, ligue para o 180 (Central de Atendimento à Mulher) ou no 136 (Disque Saúde).
Fonte: G1
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