RELIGIÃO: intolerância religiosa é denunciada após adolescente ser agredida em escola
Joinville – Uma adolescente de 16 anos foi agredida em uma escola municipal de Joinville, no Norte catarinense, após conversar sobre a religião dela, a Umbanda, com um amigo. Segundo a mãe da menina, Pricylla Bianchi, a agressão aconteceu quando uma colega ouviu a conversa dos dois e afirmou que a vítima “cultuava o demônio”.
De acordo com Pricylla, que é mãe de santo, a escola municipal teria negligenciado atendimento médico e disse que a filha teria que mudar de turno. O caso aconteceu na segunda-feira (25).
“Minha filha, por sua vez, tentou explicar que ela estava errada e que a religião de Umbanda pregava o bem. Os insultos continuaram chegando às vias de fato, e minha filha foi agredida física e moralmente”, publicou Pricylla, em uma rede social, na quarta-feira (27). A menina teria ouvido que a religião dela “era do demônio”.
Ela contou que as duas alunas foram suspensas e que precisou ir até a escola para buscar a filha. Quando chegou, a menina estava com a secretária da unidade e não havia outro representante para conversar com a mãe.
“Me assustei, porque ela estava toda machucada. Ela [a filha] estava bem no portão e a secretária dentro da secretaria. Eu perguntei para a secretária o que tinha acontecido e ela disse que não sabia, disse a mãe ao g1 SC.
A mãe da menina informou que registrou um Boletim de Ocorrência (BO) e disse, nesta quinta-feira (28), que está tomando providências para mudar a filha de colégio. De acordo com ela, a menina está com dificuldades para enxergar por causa do inchaço na região dos olhos.
A reunião com a direção aconteceu apenas no dia seguinte. De acordo com Pricylla, a escola afirmou que não sabia que a agressão havia sido motivada por intolerância religiosa e que desconheciam a profissional que teria falado com a adolescente após o caso.
Questionada pelo g1 SC, a prefeitura de Joinville afirmou que foi notificada sobre a situação e que prestou assistência à aluna e comunicou a mãe da jovem após o ocorrido (nota completa abaixo).
Nota da prefeitura
“A Prefeitura de Joinville, por meio da Secretaria de Educação, informa que foi notificada na última terça-feira (26/4) sobre uma situação envolvendo duas estudantes da Escola de Jovens e Adultos (EJA).
A direção da unidade prestou assistência à aluna que teve ferimentos e comunicou a mãe da jovem sobre a situação logo após o ocorrido. No mesmo dia, a mãe da aluna e a diretora da EJA tiveram uma reunião sobre o ocorrido.
A conversa faz parte da apuração dos fatos para que se possam determinar os próximos passos a serem adotados pela gestão da Secretaria de Educação.
A Prefeitura de Joinville reforça que defende o respeito à diversidade e que a propagação deste princípio em todas as suas unidades, inclusive de forma multidisciplinar como tema transversal.”
Busca por justiça
Além de registrar um BO e realizar um exame de corpo de delito para verificar as lesões, Pricylla informou que a Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou em contato com a família, que vai avaliar uma possível representação jurídica contra o município e a agressora. O caso é tratado como intolerância religiosa e segue sendo investigado.
O Movimento Negro Maria Laura, de Joinville, se manifestou nas redes sociais e afirmou que repudia o caso de racismo religioso ocorrido na unidade de ensino.
“O racismo estrutura as relações sociais no Brasil, neste sentido, a intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana, sem dúvida é fruto desta estrutura que tenta nos matar física, psicológica e culturalmente”, escreveram.
Fonte: G1
Fotos: Redes Sociais/G1